É errado posicionar-se muito a frente no Smith?
Antes de qualquer posicionamento é sempre bom deixar claro que o conteúdo aqui é fruto de um posicionamento pessoal a cerca do assunto, não cabendo como regra ou exceção de qualquer que seja a situação.
Então gostaria de, antes de uma análise técnica do exercício em questão, gostaria de focar em uma questão primordial: a "compressão patelofemural"
A cartilagem patelofemoral, assim como todas as cartilagens articulares, pode suportar cargas com magnitudes e frequências expressivas, mantendo sua integridade mecânica e biológica a vida toda, bastando apenas respeitar seu tempo de equilíbrio de estresse. Quando o quadríceps é solicitado, o tendão patelar ‘puxa’ a patela gerando grande cargas entre ela e o fêmur, gerando uma das principais forças que o joelho é submetido: a compressão patelofemoral. Essa sobrecarga é dependente principalmente da magnitude das cargas externas (peso corporal + quilagem no exercício) e também da amplitude do movimento, aumentando a medida que flexionamos o joelho, tendo seu pico de estresse na fase descendente do movimento próximo a 85º de flexão (considerando o joelho estendido como 0º). Ou seja, a regrinha dos 90º já ignoraria este fato e por mais que houvesse boas intenções, não pouparia o aluno do pico de compressão. Porém, se você faz um movimento mais completo e ficou preocupado, pode relaxar porque a medida que flexionamos mais o joelho, a maior superfície de contato da patela, além de outros fatores mecânicos, distribui a sobrecarga gerando menor pressão na estrutura cartilaginosa e diminuindo o risco de lesão. Se achou um pouco confuso fica tranquilo porque é um assunto que ainda darei foco total, mas já é informação suficiente para desmentir uma correção clássica e é início de uma discussão bem interessante sobre qual amplitude adotar na prevenção de lesão.
Aonde entra a implicação da correção citada no texto anterior?
Ao definir um posicionamento muito a frente do trilho no smith, tendemos a agachar com o tronco quase na vertical, e independente da orientação do joelho perante o pé, acabamos por afastar a carga do sistema em relação a articulação do joelho, alterando a resultante naquela alavanca, pois o quadril deixa de compartilhar da carga com o joelho. Sim, alavancas não servem só para ser aprovado em cinesio/biomecânica, ela tem implicação direta no exercício. Aumentando esta resultante, mesmo que utilizemos cargas e amplitudes similares, a sobrecarga no aparelho locomotor será redistribuída, aumentando a incidência no joelho e tendendo a diminuir no quadril. Isso não torna a opção inválida, porém demanda muito cuidado e noção para entender as consequências de cada escolha.
Se observarmos o movimento em si, podemos perceber que ao afastar a linha dos pés em relação aos trilhos, além de gerarmos essa compressão na patela, também é notório uma sobrecarga sobre a coluna vertebral, uma vez que esta adota uma postura retilínea, e assim, podendo aumentar o nível de achatamento sobre os discos intervertebrais, já que, desta forma, muito dificilmente as curvaturas fisiológicas são preservadas.
Sendo assim, costumo recomendar o agachamento no Smith alinhando os pés, joelhos e quadris á mesma linha dos trilhos do equipamento, pois assim acredito que o movimento se torna funcional, mais próximo do natural possível e ainda mais seguro, já que é possível observar a divisão da carga sobre as diversas articulações envolvidas., como mostra a imagem.
Isto também dependerá do equipamento, visto que diferentes orientações do trilho manipularão a resultante de formas distintas.
Acredito que nem preciso dizer que isso é só um aperitivo para entendermos a implicação de cada escolha no agachamento, mas já é o primeiro passo para compreender uma das principais forças que somos submetidos diariamente, treinando ou não :)
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Referência:
HARTMANN; WIRTH; KLUSEMANN. Analysis of the load on the knee joint and vertebral column with changes in squatting depth and weight load. Sports medicine, 2013.
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